Com mais de 75 anos dedicados à renda renascença, dona Odete Maciel, mestra rendeira, nascida em Poção (PE), teve sua arte homenageada e registrada no catálogo bilíngue “Dona Odete: a mestra da renascença em Pernambuco”, lançado ontem (13/02), no Salão de Eventos da Faculdade Senac. Com tiragem de mil exemplares, o impresso tem texto do jornalista Phelipe Rodrigues e foi idealizado pelos produtores Tereza Franco, Tiago Moreira e Felipe Cândido. O lançamento reuniu alunos, professores, produtores e profissionais de moda e gastronomia.
Aos 92 anos, única mestra viva de um grupo de oito rendeiras, dona Odete, que mora em Pesqueira, ficou bem realizada em ter seu trabalho e sua história valorizados e o legado da Renda Renascença salvaguardado neste catálogo. “Nunca pensei que meu trabalho era tão importante. Fico muito feliz com essa homenagem. É gratificante receber tantos elogios. Para mim, é um grande prazer trabalhar com a renda renascença e saber que, agora, outras pessoas vão conhecer um pouco mais sobre essa história. Afinal, quando eu morrer, não tem mais quem conte”, destaca dona Odete, agradecendo à Faculdade Senac por apoiar o lançamento”.
Dona Odete conta que, por muito tempo, a técnica criada na Itália foi mantida em sigilo e foi trazida pelas irmãs da congregação francesa Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, que habitavam o Convento de Santa Tereza, em Olinda. Posteriormente, foi levado para Poção. E foi a mestra Lalá, apelido carinhoso dado à mestra Elza Mendes Medeiros, a pioneira que montou um grupo produtivo embrionário de rendeiras, na antiga Vila de Poção, em meados de 1936/1938. Dona Odete compôs esse movimento artístico e econômico que mudou a cara da região.
Para a coordenadora do curso de Design de Moda da Faculdade Senac, Daniela Vasconcelos, esse tipo de evento tem tudo a ver com a proposta de educação da instituição, de fomentar a cultura e o resgate das tradições. “Quando recebemos a proposta de Tiago Moreira, um dos produtores do catálogo e ex-aluno nosso de Design de Moda, de trazer o lançamento para cá, aceitamos de imediato, pois o aluno precisa saber da importância desses fazeres manuais para a moda e gastronomia, e perceber a importância de valorizar essas pessoas que fazem esse trabalho. A gente, que atua com a moda, tem essa responsabilidade de perpetuar essa tradição. Foi então que tivemos a ideia de convidar a professora Cristianne Barros, de Gastronomia, para preparar o bolo confeitado com renda. Ela topou na hora, afinal, é importante levar aos alunos de gastronomia esses referenciais culturais que, para eles, são bem significativas, além de deixar o evento mais rico”.
Por sua vez, a professora Cristianne Barros destaca que foi um desafio muito grande e uma expectativa enorme, tanto para ela, quanto para os alunos, de fazer um bolo decorado com detalhes da renda renascença. “Tivemos a participação de alunos de graduação em Gastronomia e da pós-graduação em Confeitaria. Foi muito gratificante fazer todos os pontos da renda. Levamos de seis a oito horas diárias, durante quatro dias, para finalizar o trabalho, errando e refazendo. Sempre digo aos alunos que a confeitaria é a arte de treinar e errar, até acertar. Eles envolveram-se e sentiram-se orgulhosos com o resultado e viram como é importante dar valor a esta cultura. Foram momentos de muito aprendizado e união. Foi muito bom conhecer de perto a dona Odete”.
A aluna da pós-graduação em Confeitaria, Ana Santos, que já trabalha com esse tipo de bolo de noiva rendado, diz que participar da elaboração do bolo para o evento foi de suma importância e desafiador. “O bolo de noiva rendado com açúcar representa o bordado do vestido da noiva. E foi incrível estar com dona Odete, que é uma referencia nessa arte”.
O catálogo tem incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura, e teve a presença do assessor de Design de Moda da Secretaria de Cultura de Pernambuco, Flávio Barbosa. Ele destaca que o catálogo valoriza e perpetua um saber tradicional. “Esse livro é uma forma de registrar um trabalho de dona Odete, que se dedica a esta arte há mais de 75 anos. Fico muito contente com o resultado. Afinal, esse é o papel, de fato, do Funcultura, que é fomentar, incentivar esse tipo de ação, de formação e de pesquisa da nossa cultura tradicional pernambucana”.
A aluna de Design de Moda da Faculdade Senac, Mirela Andrade foi uma das modelos do catálogo e ficou muito honrada em participar do projeto. “O catálogo foi importante para divulgar o trabalho da renascença, que para muita gente, acaba sendo só mais uma renda, mas na verdade tem toda uma história por trás. Foi uma experiencia muito boa ter sido modelo das peças do catálogo e conhecer de perto o trabalho e a história de dona Odete, que ganha a vida com isso. Eu, como formanda em Design de Moda, consigo ver toda a parte de criação dela e sua inspiração”, comenta Mirela.